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GRUPO TEMÁTICO (GT) DISPONÍVEL PARA INSCRIÇÃO DE COMUNICAÇÕES ORAIS NO XIV INTER
GT 1 - (SIN)QUENTENÁRIO DO GRUPO SIN DE LITERATURA
MARTINS, Elizabeth Dias
DINIZ, Fernanda Maria
Universidade Federal do Ceará
Comemorando o SINquentenário do Grupo SIN de Literatura, o Programa de Pós-Graduação em Letras da UFC promove o II Simpósio de Literatura Cearense com o objetivo de marcar essa data e homenagear o Grupo que representa no Ceará a Geração 60 da Literatura Brasileira, o qual a partir de 1967-1968 imprimiu novo rumo às nossas letras.
No transcurso dos 25 anos de sua fundação, a Revista de Letras (vol. 15, Nº 1/8 Jan. 1990-Dez. 1993) do Curso de Letras da UFC dedicou suas páginas à efeméride.
Em 2008, os 40 anos do Grupo foram celebrados nos Encontros Literários Moreira Campos do Departamento de Literatura, com um Seminário exclusivo sobre a obra produzida.
Em 2017/2018, nos 50 anos do Grupo SIN, cabe efetuar amplo debate a respeito da contribuição poética, crítica, ensaística, narrativa e teórica trazida às literaturas cearense e brasileira por uma produção já firmada e reconhecida no cenário local, nacional e internacional, com balanço de mais de 100 obras publicadas.
O nome do Grupo deriva de sincretismo, palavra devida ao étimo grego synkretismos que é um “sistema filosófico que consiste em combinar as opiniões e os princípios de diversas escolas; mistura de opiniões combinadas para formar um sistema misto, eclético”. Diversidade temática, diferentes posturas estéticas, assimilação de processos e técnicas composicionais precedentes, incorporação de múltiplas linguagens artísticas disponíveis nas muitas linhas programáticas praticadas antes são, pois, o programa específico do Grupo.
Constituído inicialmente por Horácio Dídimo, Linhares Filho, Rogério Bessa, Pedro Lyra e Roberto Pontes, o núcleo fundador, este ampliou-se com Barros Pinho, Yêda Estergilda, Leão Júnior, Rogério Franklin, Leda Maria, Inês Figueiredo e Barroso Gomes.
A poesia do SIN guarda elementos de sincretismo poético, assimila processos, técnicas e modos praticados pelos poetas brasileiros precedentes e a estes imprime a fisionomia da Geração 60, em três segmentos de linguagem que caracterizam esta geração no Brasil: o discursivo, o experimental e o épico. O SIN demonstrou certa reação à poesia do Grupo Clã, que atuou em nosso estado, sobretudo no tocante ao alinhamento deste com o formalismo Neoparnasiano de 1945.
O movimento teve início numa articulação cultural de estudantes de Direito e Letras da UFC interessados em Literatura e artes.
A primeira publicação do Grupo SIN foi uma coletânea mimeografada tendo por título Minisinantologia, lançada a 24 de 11 de 1967, no encerramento do Curso de Literatura Brasileira, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da UFC, da Profª Drª Lireda Facó. Em 13 de 3 de 1968 outro conjunto de poemas, de título Minisinantologia II, dedicado ao poeta Antônio Girão Barroso, foi lançada “na abertura do Curso de Estilística do Prof. Dr. Luís Tavares Junior. Tendo as publicações obtido sucesso, os participantes imprimiram a SINantologia, editada pela Imprensa Universitária da UFC e lançada no Museu de Arte da UFC, a 20 de março de 1968, com novos poemas.
O contexto histórico no qual nasceu o SIN não era propício à articulação de movimentos políticos e culturais. Assim, o grupo acabou nascendo e se dissolvendo rapidamente. Naquele momento o Brasil vivia a ditadura militar de 1964 e a censura era exercida com mão-de-ferro. A atriz Glauce Rocha e o diretor teatral B. de Paiva encaminharam ao SIN o histórico Manifesto dos Intelectuais Brasileiros Contra a Censura, de 1968. Parte do Grupo decidiu não assiná-lo e assim as ações programadas arrefeceram.
São estas as questões que poderão nortear os trabalhos e discussões deste grupo de trabalho integrante do Simpósio.
GT 2 - A CIDADE NO PAPEL: A CARTOGRAFIA LITERÁRIA DA CIDADE DE FORTALEZA
Prof. Me. Charles Ribeiro PINHEIRO
Prof. Dr. Wesclei Ribeiro da CUNHA
Prof.ª Lídia Barroso GOMES
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
As múltiplas experiências do homem nos espaços urbanos, a partir da Revolução industrial, gradativamente, suscitaram inúmeras representações literárias. A cidade serviu não apenas de cenário, mas como personagem relevante em várias narrativas ficcionais, além de tema de muitas composições líricas. Na interpretação do escritor Italo Calvino, ela é “símbolo complexo capaz de exprimir a tensão entre racionalidade geométrica e o emaranhado de existências humanas” (1990, p. 85). Calvino, em Cidades Invisíveis, nos tece uma magnífica cartografia poética, na qual a cidade simplesmente não “conta o seu passado, ela o contém como as linhas da mão, escrito nos ângulos das ruas, nas grades das janelas, nos corrimãos das escadas, nas antenas dos para-raios, nos mastros das bandeiras” (1990, p. 14-15). Ao aprender a lição de Calvino, nos voltamos para os textos literários que não tratam unicamente dos aspectos materiais da paisagem urbana, mas da cidade no papel, vista como um objeto linguístico e artístico de construção coletiva, ou seja, histórica e social, sobretudo, afetiva e simbólica. A cidade que escolhemos para o nosso debate é Fortaleza. De uma pequena vila que cresceu ao lado do Forte de Nossa Senhora da Assunção (1812), ela se tornou uma das maiores capitais do Brasil. Progrediu efetivamente em virtude da exportação de algodão para a Inglaterra, durante as décadas de 1860-1870, desenvolvendo-se materialmente, convertendo a Praça do Ferreira como centro econômico, político e cultural da capital. No século XX, as drásticas reformulações e expansões urbanas não afastaram os graves contrastes sociais que existiam e ainda existem. Como cidade de tensões, paradoxalmente, “Terra da Luz” e da barbárie, é palco ideal para os cantos de amor e de ódio, de louvores e de denúncias. Portanto, o objetivo de nosso GT é promover debates acerca das representações artísticas de Fortaleza, em variados gêneros literários, observando-a nos seus variados aspectos formais: a cidade como cenário, como tema, como personagem, como alegoria, enfim como evento desencadeador da recriação poética. O nosso Grupo de Trabalho parte de uma perspectiva da Historiografia literária e da Literatura comparada, mas é de caráter interdisciplinar, visto que a cidade é assunto estudado pelas Humanidades. No entanto, privilegiaremos os trabalhos que tenham como objeto de investigação o texto literário. Da Fortaleza escrita em verso e prosa, trabalharemos com uma ampla gama de imagens e temas: como musa para variados poetas; como “madrasta” de acordo com Pedro Salgueiro (2006); de “ruas tão alinhadas como os versos de um soneto!”, para Arthur Eduardo Benevides, às periferias das ‘areias’, nas peças de Eduardo Campos; como palco do cotidiano urbano; como cidade das secas; como retrato da hipocrisia e dos vícios; da denúncia social em Aldeota (1963), de Jader de Carvalho, do Ceará moleque da Padaria Espiritual, em Araripe Júnior; dos talentosos cronistas; das “velas” do Mucuripe. Como fundamentação teórica, além de Italo Calvino (1990), nos apoiamos em Dominique Maingueneau (2001), Pierre Bourdieu (1996); Charles Baudelaire (1869), Walter Benjamin (1989); José Ramos Tinhorão (1966); Sebastião Rogério Ponte (2001); Eduardo Campos (1988) e (1985); Caterina Maria de Saboya Oliveira (2000) e Raimundo Girão (1979) e (1983). Esta proposta de GT está vinculada ao projeto de extensão “O entre-lugar na literatura cearense”, que visa ao fomento da leitura, à divulgação e ao auxílio na formação de pesquisadores na área de literatura cearense.
GT 3 - A LÍNGUA DE EROS
Dr. Claudicélio Rodrigues da SILVA
(Universidade Federal do Ceará)
Luciana BESSA
(Doutoranda do PPGL Universidade Federal do Ceará)
Experienciar a literatura é correr riscos. Com ela, mergulha-se num turbulento mar de contradições, de recalques, de horrores, de situações insólitas. Os personagens e suas ações são retiradas de onde mesmo senão da vida? Uma advertência do mestre Antonio Candido parece colocar o problema da literatura diante de nós: “Convém lembrar que ela não é uma experiência inofensiva, mas uma aventura que pode causar problemas psíquicos e morais, como acontece com a própria vida, da qual é imagem e transfiguração” (O direito à literatura, 2011, p. 178). É nesse papel contraditório e humanizador que a literatura navega com toda a sua força e fragilidade. Que pode a literatura contra o obscurantismo e o fundamentalismo que persegue, cerceia e interdita o desejo? Que pode a literatura contra a onda conservadora que acusa as artes de transgressoras e tenta cercear a criação em nome da moral e dos bons costumes? Que pode a literatura contra o mundo hostil aos corpos que resolveram questionar padrões de comportamento e enquadramentos das identidades de gênero sexuais? A literatura sempre foi o lugar do desvio das normas, da quebra dos tabus e do questionamento das instituições. Mas ela não saiu ilesa. Muitos autores foram calados, julgados e condenados, suas obras foram queimadas, banidas e proibidas. O erotismo no ocidente, diz Foucault, sempre teve um tom confessional, mas não de libertação, motivo pelo qual a confissão está “entre os rituais mais importantes de que se espera a produção da verdade” (Sciencia sexualis, ano, p. 65). Até Freud, para quem a pulsão é “sempre uma força constante” (As pulsões e seus destinos, 2015, p. 19) e não dominável, os discursos da igreja, da medicina e da teoria convergiam para a lógica do “confessar para combater”. Em nome da fé, por um lado, e da ciência, por outro, acusou-se de aberrações, perversões e monstruosidades os desejos de quem não se adequava biologicamente aos sexos masculino e feminino e à heterossexualidade. Confissão e regulamentação caminhavam lado a lado. Foi preciso chegarmos ao século XX para que surgissem teorias que questionavam a naturalização do sexo e a constituição social do gênero. Ambos não são elaborações subjetivas, políticas e culturais? Se Simone de Beauvoir dizia que “não se nasce mulher, torna-se”, Judith Butler fala de gêneros em performatividade, noção que coloca em xeque a visão binária e heterocentrada do sexo, do gênero e do desejo e mostra como os corpos atuam subversivamente contra denominações. Diante dessas mudanças teóricas, como a literatura contemporânea tem contribuído para o debate? O desejo não tem sexo, nem gênero? Qual a cor e a forma do desejo? Até que ponto ficcionistas e poetas da contemporaneidade têm contribuído em suas obras para a reflexão sobre a natureza reveladora de Eros? Como ler a literatura moderna e contemporânea sob os impactos dos estudos de Freud, Foucault, Beauvoir, Barthes, Agamben, Butler e tantos outros teóricos das corporeidades? A literatura, por outro lado, exerceu um papel de transgressão ao elaborar personagens não para legitimar aqueles discursos senão para combatê-los. Como expressão estética, ela revela aos leitores os fantasmas de seus medos e desejos, revoltas e fracassos, alegrias e esperanças. O mundo povoado de fantasmas é o que ela oferece. Em um momento de profunda crise moral e ética, quando o que mais se ouve no mundo é o termo “pós-verdade” como forjamento e divulgação de mentiras como verdades, resta à literatura trazer, no seu bojo criativo, narrativas que nem podem ser tachadas de verdadeiras, nem mentirosas, porque existem num outro plano, o da ficção, cujo estatuto está a serviço da reflexão e da crítica. É para contribuir com esse debate que convidamos alunos de graduação e pós-graduação da UFC e de outras instituições para apresentarem comunicações sobre suas pesquisas neste Grupo de Estudos.
GT 4 - ADAPTAÇÃO, LITERATURA E O DIÁLOGO COM OUTRAS ARTES
Gleyda Cordeiro ARAGÃO
Doutoranda, PPGLetras - Universidade Federal do Ceará
Raquel Ferreira RIBEIRO
Doutoranda, PPGLetras - Universidade Federal do Ceará
A adaptação literária é comumente associada ao diálogo entre literatura e cinema, ou seja, entre texto literário e filme, mas toma forma também nos mais diversos setores midiáticos: fotografia, pintura, escultura, teatro, música, além de outras mídias como a televisão, redes sociais da internet, quadrinhos, etc. Estas trocas entre vários meios semióticos é fato antigo e remonta aos tempos vitorianos. São inúmeros os estudos que documentam estes processos recriadores. No entanto, é notório que cada meio semiótico possui particularidades que são levadas em consideração para abrigar um texto narrativo e/ou poético à sua maneira, segundo seus recursos e limitações. A partir de um texto-fonte, quem adapta cria um novo texto (visual, sonoro, etc.) a ser apreciado de forma diferente da do texto literário, pois os aspectos narrativos tomam novas configurações e atingem outros públicos em épocas diversas. Além disso, adaptações despertam discussões sobre autoria, pois há um conjunto de ações no processo de recriação que são tomados a partir da biografia, perspectiva individual, posição pessoal do(s) adaptador(es) que resulta em um produto final novo, levando a análises, por vezes, mais subjetivas. Destarte, assim como as traduções textuais/orais entre línguas demonstram suas particularidades, as adaptações envolvem uma troca não só entre idiomas, mas entre meios semióticos, sendo assim, uma forma de transposição de linguagem intersemiótica. Hutcheon (2006, p. 07) afirma que “Adaptação é repetição, mas repetição sem replicação”, deixando clara a existência de diversas possibilidades e intenções por trás do ato de adaptar. Os estudos em adaptação são recentes, surgidos no século XX, porém, como já afirmamos anteriormente, a prática de transformar um texto em outro é muito antiga e se encontra num diálogo entre as artes, por vezes, uma arte gerando outra, uma linguagem se transformando em outra e um texto é gerado a partir de outro. A literatura se fez assim, através dos séculos, e desse modo ela se adapta para outras artes, afirmando-se como um gênero criador. Importantes teóricos abordam a adaptação, seja como tradução e reescritura (CATTRYSSE, 1992; LEFEVERE, 2007) e/ou como transescritura, intermidialidade e transmidialidade (HUTCHEON, 2006; DINIZ, 2012). Intermidialidade, mais especificamente, é um termo recente que abrange estudos em mídia digital e eletrônica, ou novas mídias, em várias áreas de estudos, a partir dos Estudos Literários, argumenta-se a transposição da Literatura para outra arte, ou seja, além da adaptação cinematográfica de uma obra literária, considera-se também a poesia visual, a romantização (transposição de filme para romance), a musicalização da literatura e outros fenômenos de transformação de um texto para outras mídias (RAJEWSKYO, 2012). O presente grupo temático tem como objetivo reunir trabalhos que reflitam as teorias pré-citadas e os diálogos inter/transtextuais da literatura e outras artes/mídias. Serão bem-vindos também trabalhos de tradução de textos literários escritos ou orais e/ou que abordem teorias de tradução em geral. É importante salientar que esses estudos não pregam a hierarquização das artes e seu foco situa-se na observação e análise dos processos tradutórios, suas técnicas, o contexto sócio-histórico e o público ao qual as mesmas se destinam.
GT 5 - A CRÍTICA GENÉTICA DE TEXTOS LITERÁRIOS
Ingrid Ribeiro da Gama RANGEL
Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro
Eleonora Campos Teixeira e NASCIMENTO
Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro
Clesiane Bindaco BENEVENUTI
Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro
Dentre as possíveis críticas de textos literários, a genética é a que é capaz de revelar a face mais humana do autor. Afinal, ao acompanhar o desenvolver e o surgir de uma obra, revela as escolhas e os processos de criação do escritor. A ideia de arte como fruto de mera inspiração é substituída pela revelação de um árduo trabalho de busca da expressão ideal. A crítica genética permite que se veja o poema, por exemplo, ainda desnudo, em forma de potência, em um fantástico “por vir”.
A Genética é também a forma mais radical da crítica, pois não aborda apenas o texto definitivo e publicado, como todas as demais modalidades críticas, mas a sua construção, desde a ideia primitiva e a primeira redação, passando por todas as rasuras, emendas e reescrituras, até a última publicação, o que a difere radicalmente de todas as outras.
Na crítica genética de poemas, analisa-se a evolução do texto, verso por verso. Cada palavra, cada anotação é importante no processo de análise. Um traço pode representar uma quebra; um rabisco, uma mudança de ideia.
O poeta, ensaísta e professor Pedro Lyra compreende a importância do registro de seu processo criativo. Em volumosas pastas são conservados, organizados por ordem cronológica de redação, todos os manuscritos dos 269 sonetos do livro Desafio – Uma poética do amor (até mesmo os últimos, escritos online, comprovando que, mesmo em tempos informatizados, é possível conservar os documentos do processo de criação).
Os sonetos lyranos (neologismo criado para identificar o soneto de Lyra, que é diferente dos dois modelos tradicionais: o petrarquiano/camoniano e o shakespeareano) têm suas gêneses nos mais diversos lugares: numa mesa de bar, dentro de um ônibus, num jardim ao luar na madrugada, num estádio de futebol, a bordo de um avião, às margens de um lago ou à beira de uma piscina, num salão de Cassino. Não por um acaso, alguns esboços iniciais aparecem escritos em cartões de bingo, suportes para copos de Chopp, ingressos de jogos de futebol e quaisquer outros papéis que sirvam para registrar o nascimento da ideia poética.
A diversidade dos documentos do processo criativo aliada à qualidade dos poemas lyranos motivou pós-graduandas e professoras a criticarem geneticamente sonetos do livro Desafio. Oito das gêneses foram publicadas na obra A construção do poema: crítica genética de oito sonetos de Pedro Lyra e já existem trabalhos separados para volumes futuros.
O livro é o primeiro brasileiro de crítica genética de textos de um mesmo autor. Nele, os sonetos são minuciosamente analisados. Também há na obra o registro de todos os documentos do processo criativo, além dos quadros de emendas.
Neste grupo de trabalho, objetiva-se dialogar sobre a importância da crítica genética de textos literários para a compreensão da atividade artística. Pretende-se ainda conhecer diferentes trabalhos de gêneses ou de estudos do processo criativo. Acredita-se que a partir da troca de experiências entre geneticistas, será possível desvelar caminhos para a crítica de documentos de processos criativos, sejam estes registros em linhagens manuscritas, datilografadas, impressas ou digitais.
GT 6 - ENSINO DE LITERATURA NUMA ABORDAGEM SEMIÓTICO-DISCURSIVA
José LEITE JUNIOR
Universidade Federal do Ceará
Carmem Silvia de Carvalho RÊGO
Universidade Federal do Ceará
Marilde Alves da SILVA
Universidade Federal do Ceará
A história do ensino da Literatura, no âmbito ocidental, remonta à antiguidade greco-latina. A Poética e a Retórica, de Aristóteles, apresentam um caráter propedêutico sobre o tema e fundam uma longa história didático-pedagógica. A retórica e a poética disputaram seu espaço nas diversas propostas curriculares no transcurso dos séculos. A retórica conheceu grande prestígio no ensino medieval, tendo feito parte do trivium, ao lado da gramática e da dialética. Com o declínio da retórica, fato notório já no século XVIII, a poética passa a ter destaque, sendo disputada por impressionistas e cientificistas do século XIX e revitalizada, no século XX, por influência do estruturalismo linguístico e outras influências filosóficas e científicas, como atestam os trabalhos do Formalismo Russo, do New Criticism e de tantas propostas, como a estruturalista, a semiológica, a semiótica, a marxista, a fenomenológica, a da recepção, a psicanalítica, a genética, a pós-estruturalista, a dos estudos culturais, abordagens que reiteram ou que relativizam a imanência do texto. Feitas essas considerações, o GT tem como objetivo reunir pesquisas teóricas, práticas analíticas e vivências propositivas no sentido de trazer soluções didático-pedagógicas para o ensino e a aprendizagem da Literatura nos mais diversos níveis de ensino. Sem qualquer exclusão de outras filiações epistemológicas, o GT enfatiza a contribuição da Semiótica Discursiva fundada por Algirdas Julien Greimas, que tanto se dedicou à investigação do texto literário, fazendo esmaecer as fronteiras entre a investigação linguística e a estética. Não faltam desdobramentos didático-pedagógicos dessa ascendência greimasiana, como comprovam as contribuições de José Luiz Fiorin, cujo Para entender o texto, escrito em parceria com Francisco Platão Savioli, se tornou um clássico no trato didático-pedagógico do texto, com grande destaque para o texto literário, ou de um Denis Bertrand, com os Caminhos da Semiótica Literária, para citar apenas dois expoentes de uma respeitável plêiade de investigadores. Vale lembrar que a Literatura suscita também parcerias com outras artes, com elas entrando em sincretismo, como no cinema, nos quadrinhos, na canção, dentre outros exemplos. Nesse sentido, são bem-vindas as propostas de trabalho relativas à intertextualidade, à interdiscursividade e à tradução intersemiótica, sobretudo quando sugerem uma aplicação didático-pedagógica em torno do texto literário. Também merece atenção o fato de que a Semiótica Discursiva está sempre em evolução, sem no entanto ter perdido a bricolagem (interdisciplinaridade) de suas origens, nem ter-se afastado dos fundamentos metodicamente construídos por Greimas e tantos outros semioticistas. Por esse motivo, o GT recepcionará tanto propostas que remontem ao modelo canônico de análise, com as categorizações do quadrado semiótico e o modelo do percurso gerativo do sentido, como as tendências que sucederam a essa formulação inicial, como as semióticas visual, musical, passional e tensiva. Renovada pela Semiótica Discursiva, tanto a poética como a retórica voltam à sala de aula segundo o olhar do nosso tempo, contribuindo para a elevação do nível cognitivo, da capacidade analítica, da sensibilidade, enfim, das habilidades e competências colocadas em pauta pelo texto literário, herança a um tempo singular e complexa em que se espelha e se exercita a humanidade em seu percurso de perpétua humanização.
GT 7 - HISTORIOGRAFIA DA LITERATURA: ENTRE A HISTÓRIA INTELECTUAL, DO LIVRO E DA LEITURA
Gilberto Gilvan Souza OLIVEIRA
Universidade Federal do Ceará
Johny Paiva FREITAS
Universidade Federal do Ceará
Livros ao invés de pele e ossos. Dito de outro modo, pele e ossos constituídos de livros. Cada articulação e traço do corpo são moldados pela geometria de livros organizados esteticamente. Assim é composto o quadro O Bibliotecário (1566), do pintor italiano Giuseppe Arcimboldo (1527-1593). Nele o artista parece nos propor uma alegoria da leitura, na qual o mundo do sujeito está imbricado ao mundo da leitura. Sendo assim, tal pintura nos revela a dimensão simbólica contida no ato de ler, em que leitor e texto vão lendo um ao outro, numa dialética que ultrapassa o plano material do objeto e se infiltra sorrateiramente pela subjetividade daquele que lê, ao ponto de não haver diferenciação entre eles. Já não se sabe qual é a matéria-prima que os forma. Talvez, e aqui reside o mistério denso dessa obra: a materialidade nos revela mais do que seus limites geométricos, ela se amalgama com o simbólico e constrói não só uma representação, mas um ser de carne e osso... e livros. É com esse movimento que a literatura cearense pinta quadros acerca do universo que a constitui e é constituída, num processo em que se passa pela dimensão da invenção, da criação de categorias, estruturas discursivas e a consagração de obras e autores. É preciso considerar, também, o papel do mercado editorial, dos selos editorias, das instituições e a ação dos sujeitos nas demandas e modos de circulação dos impressos, atentando para suas particularidades, mudanças e permanências simbólicas e estruturais. Além disso, não podemos perder de vista o papel desempenhado pelos leitores e críticos literários, pois são eles que mantêm os textos em vidas pulsantes, que os inserem nas dinâmicas do presente, que (re)configuram temporalidades e formas de estar e sentir o mundo. Desse modo, o presente Simpósio Temático pretende debater sobre os objetos e os procedimentos teóricos e metodológicos voltados à história intelectual, do livro e da leitura e seus temas convergentes, relacionando o debate sobre edição e publicação com o poder da escrita, do impresso e suas correlações políticas. Trata-se de pensar sobre as conexões entre a cultura escrita e a ação dos sujeitos nos processos de fabricação do objeto livro, nas performances de leitura e na atuação de autores e escritores, seja a partir da literatura, da história, da sociologia ou de outras áreas do conhecimento. Nesse sentido, iremos acolher trabalhos que investigam as experiências dos sujeitos, como eles produzem os objetos e como os objetos (imbuídos de poderes (auto)legitimadores) são produtores de autores, escritores e intelectuais. Para tanto, acreditamos que tais investigações podem ser realizadas através de diversas tipologias documentais, as quais podemos destacar o texto literário, jornais, revistas, as performances de leitura, a oralidade, os trabalhos da memória, entre outras. Por fim, cabe destacar que as perspectivas teóricas e metodológicas mobilizadas para a reflexão de temas e temáticas convergentes para a proposta deste Simpósio podem ser as mais diversas possíveis, transitando entre os estudos literários e a história social, cultural e intelectual, além da história do livro e da leitura.
GT 8 - LITERATURA CEARENSE: DE ÍNDIOS DO JAGUARIBE (1862), DE FRANKLIN TÁVORA, A AVES DE ARRIBAÇÃO (1913), DE ANTÔNIO SALES.
Dra. Denise ROCHA
Doutoranda Kelly M. FERREIRA
Mestrando João Paulo FERNANDES
Universidade Federal do Ceará, Fortaleza
Resumo: No Prefácio do romance O Cabeleira, publicado em 1876, encontra-se uma constatação dialética de Franklin Távora sobre a paisagem literária nacional: “As letras têm, como a política, um certo caráter geográfico; mais no Norte, porém do que no Sul abundam os elementos para a formação de uma literatura propriamente brasileira, filha da terra”. O autor esclarece que “A razão é óbvia: o Norte ainda não foi invadido como está sendo o Sul de dia em dia pelo estrangeiro” e acrescenta: “A feição primitiva, unicamente modificada pela cultura que as raças, as índoles, e os costumes recebem dos tempos ou do progresso, pode-se afirmar que ainda se conserva ali em sua pureza, em sua genuína expressão”. (TÁVORA, 1997, p. 12).
Trata-se, de um lado, de um manifesto em prol da criação de uma Literatura do Norte, de um regionalismo autêntico e, de outro, de uma oposição à literatura do Sul, plena de influências estrangeiras e de anti-nacionalismo. Anteriormente, no ano de 1862, Távora publicou Índios do Jaguaribe.
Franklin Távora delineou seu programa regionalista, definido como “Literatura do Norte”, que foi concretizado na publicação posterior de O Matuto (1878), Sacrifício (1879) e Lourenço (1881), e que influenciou os escritores José do Patrocínio, Rodolfo Teófilo, Lindolfo Rocha, Oliveira Paiva, Domingos Olímpio, Antônio Sales, Afrânio Peixoto, Carlos Dias Fernandes, José Américo de Almeida, e a escritora Rachel de Queiroz, entre outros.
O objeto do GT é abrir um fórum literário e histórico para reflexões sobre obras literárias de autores cearenses: Índios do Jaguaribe (1862), O Cabeleira (1876) e O Matuto (1878), de Franklin Távora, Dona Guidinha do Poço (1891), de Oliveira Paiva, A Fome (1890), Os Brilhantes (1899), O Paroara (1899) e Violação (1899), de Rodolfo Teófilo, Luzia Homem (1903), de Domingos Olímpio, e Aves de Arribação (1913), de Antônio Sales, entre outros.
GT 9 - LITERATURA, TRANSDISCIPLINARIDADE E SOCIEDADE NO MUNDO ANTIGO
Márcio Henrique Vieira AMARO
(Doutorando do PPGL-UFC)
Pauliane Targino da Silva BRUNO
(Doutoranda do PPGL-UFC)
Solange Maria Soares de ALMEIDA
(Doutoranda do PPGL-UFC)
Em consonância com os princípios norteadores do XIV Encontro Interdisciplinar de Estudos Literários, esse Grupo Temático propõe uma leitura transdisciplinar cotejando a expressividade do Mundo Antigo através de vários aportes: literários, historiográficos, filosóficos, iconográficos e artesanais, e a partir de conceitos significativos para os estudos de hoje como transgressão, resistência, alteridade, gênero e ética. Na Antiguidade, a expressão artística abrangia a corporalidade, a musicalidade e a oralidade sem dissociar-se das mais variadas correntes de pensamento, que debatiam temas pertinentes para importantes âmbitos sociais como a política e a religião. Essa performatização estética do social faz do Mundo Antigo um espaço privilegiado para repensar a nossa própria realidade, promovendo uma discussão e uma ressignificação do eu e do outro na sociedade. Essas várias vozes reveladas, sobretudo, através de formas artísticas – literatura, pintura, escultura e outras – tocam em questões humanas da época que reverberam no Ocidente e Oriente hodiernamente. O eco de tais manifestações culturais, sobretudo por meio de textos escritos, principalmente os literários, transmitiram um legado concernente às questões sociais como um todo e a uma forma de transdisciplinaridade (considerando o direcionamento atual de junção de variados conhecimentos com um enfoque plural), de grande representatividade. Escritores antigos, que em princípio por meio de poemas e mais tarde nos textos em prosa, mesclavam literatura a outros conhecimentos científicos, os quais expuseram questões metafísicas em hexâmetros como no poema Sobre a natureza dos deuses de Lucrécio; ou imagens geográficas presentes nos poemas atribuídos a Homero; ou informações acerca da agricultura como as apresentadas nas Geórgicas de Virgílio. Desse modo, os diversos conhecimentos eram transmitidos, permeados de características literárias, não somente quanto à forma, mas também em relação ao conteúdo. Tal unificação de pensamentos acrescentou conhecimentos, classificados como científicos, e valores sociais, políticos, filosóficos, religiosos e artísticos aos povos daquela época e também para as sociedades posteriores. A contribuição desse legado cultural antigo sobrevive até os nossos dias nos diversos campos de estudos, sobretudo nas representações por meio da linguagem, contemplando as artes de modo geral. A fim de comungarmos isso, o presente GT convida pesquisadores e estudiosos do Mundo Antigo a apresentarem comunicações e a ampliarem o debate acerca da Antiguidade nesse evento. Diante da atual conjuntura vivenciada por nós no Brasil, não há como desprezarmos os ensinamentos dos antigos. Não foi por acaso que o tema do XIV Encontro Interdisciplinar de Estudos Literários, escolheu como uma de suas categorias fundantes o termo ‘Sociedade’. A iminente falência institucional e a inoperância dos serviços essenciais (educação e saúde), aliadas aos diversos conflitos entre as instâncias executiva, legislativa e judiciária, conclamam a academia a assumir o seu protagonismo e a fornecer um posicionamento ou uma orientação, que seja capaz de referenciar um projeto de mudança, com propostas inclusivas. A comunidade encontra-se carente de líderes, símbolos, ideologias, e, talvez, o remédio para tudo isso possa ser encontrado ao revisitar o passado. Perscrutar as ondas cíclicas da história, através de sua literatura pode representar o diferencial. Essa é a proposta desse grupo temático: reunir vozes em torno da Antiguidade.
GT 10 - O BRASIL DE JOSÉ DE ALENCAR (1829-1877): CRÔNICAS, TEATRO E NARRATIVAS
Dra. Denise ROCHA
Doutoranda Sarah HOLANDA
Mestrando Renato Barros de CASTRO
Universidade Federal do Ceará, Fortaleza
No ano de 2010, a escritora cearense Ana Miranda lançou o romance Semíramis que evoca a trajetória de José de Alencar, entrelaçada com a de Gonçalves Dias, de Castro Alves e a de Machado de Assis, refletindo a atualidade do seu conterrâneo, advogado, deputado, ministro da justiça, cronista e escritor que teve grande de sucesso de público e insucesso de crítica.
José de Alencar (1829-1877) foi um grande polemista: teve querela com Gonçalves de Magalhães e D. Pedro II por causa do poema A confederação dos Tamoios (1855); com Franklin Távora e Feliciano de Castilho (Cartas a Cincinnato,1871 e 1872) por causa de Iracema e O gaúcho, sendo acusado de ser “escritor de gabinete” que não conhecia a realidade apresentada nos dois romances; e com Joaquim Nabuco (1875), que fez severas críticas à peça teatral O Jesuíta.
Considerado o patrono da literatura brasileira e o maior escritor do Romantismo, ele foi um arguto observador de seu tempo, da paisagem política, militar e econômica nacional e internacional, da paisagem cultural do Rio de Janeiro e da paisagem feminina, temas refletidos nas crônicas Ao correr da pena (1854-1855), publicadas no Correio Mercantil, e nas Folhas Soltas que apareceram no Diário do Rio de Janeiro (1856-1857).Seu programa literário é revelado no texto Como e porque sou romancista, publicado postumamente, em 1893, e no prefácio de Sonhos d´Ouro (1872), no qual apresenta a classificação do “período orgânico” da sua literatura: 1- o das “lendas e mitos da terra selvagem e conquistada” (Iracema e Ubirajara); 2- o do “consórcio do povo invasor com a terra americana” e o da “luta entre o espírito conterrâneo e a invasão estrangeira” (O Guarani e As Minas de Prata); 3- o das “tradições, costumes e linguagem com um sainete todo brasileiro” (O Tronco do Ipê, Til e o Gaúcho): Lucíola, Diva, A Pata da Gazela e Sonhos d'Ouro.
O objetivo do GT é refletir sobre a trajetória de Alencar, que tinha consciência do papel da literatura e da função social do escritor e que pretendeu traçar um retrato do Brasil por meio da cristalização da identidade e da consciência nacional, refletidas em suas obras.
GT 11 - LITERATURA, TRANSDISCIPLINARIDADE E SOCIEDADE
Coordenação: Comissão científica.
Pensando com o mestre Antonio Candido, de quem o legado e a memória certamente cruzam todo o pensamento norteador da edição de nosso evento este ano, “a literatura desenvolve em nós a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza, a sociedade, o semelhante”. De tal forma, o direito à literatura se mostra agora e sempre como o direito ao devir, à polissemia e ao entrecruzamento de fronteiras. Ao pensar o trânsito entre disciplinas, com ênfase naquelas que têm o humano como fonte de produção de pensamento e de objetos perscrutáveis, sondamos a sociedade como terreno de colheita, plantio e troca.